quarta-feira, 15 de outubro de 2008

LUTANDO POR UMA CONSULTA

É uma tristeza depender da saúde oferecida pelo Governo.Um caos permeia todo o serviço oferecido ao povo, que tem que fazer quase o impossível apenas para ter 10 minutos ou menos de consulta em um médico que na maioria das vezes nem olha para o paciente, mas faz um diagnóstico superficial e mecânico.
Eu experimentei uma agonia dessas quando fui ao Osvaldo Cruz marcar uma ficha para o meu pai, que sofre de coração.Porém eu fui marcar para Urologista, que é um dos profissionais mais difíceis de encontrar nos serviços de saúde pública.Marquei com meu irmão às 11h 00 da noite; ele ficou de me pegar no centro da cidade, próximo ao 13 de Maio.Fiquei mais de meia hora esperando ele chegar.Causa até medo ficar ali tão tarde da noite.Pouquíssimas pessoas na parada; os comerciantes já tinham fechado as portas de seus estabelecimentos, pelo menos a maioria.Do outro lado da avenida, atrás de mim, havia ainda uma pequena lanchonete aberta.Acredito que todo dia ela fique assim até tarde da noite, pois a hora em que saí de lá não havia fechado ainda.
Chegou meu irmão e nós fomos para o hospital.Chegamos lá e já havia um monte de gente esperando marcar consulta no outro dia, vejam só.A maioria é formada de idosos, que em vez de ficarem em casa descansando, vão passar a noite em um hospital para pegar uma ficha que nem sabem que vão conseguir.Que lástima. Depois de encostarmos o carro, peguei um colchonete fui para a fila, deitar um pouco, pois estava com muito sono; coloquei o colchão no chão e comecei a tirar um cochilo.Perto de mim havia um senhor de uns cinqüenta anos contando a vida dele; contou uma série de mazelas, entre elas o fato de ter sofrido muito tempo com os testículos inchados, enormes, por conta da hidrocele. E continuou falando das cachaças que tomava, das quedas que levava e outras “aventuras” mais das quais se lembrava.Eu já estava ficando com pena do homem. Ficava na perspectiva infeliz de passar toda a noite dormindo numa fila, num tédio medonho.O que me salvava era um romance que eu havia levado para ler; para onde eu vou tenho que levar um livro comigo (até quando vou ao banheiro), já é um costume meu.
Enquanto eu dormia do lado de cá, meu irmão dormia em cima do carro, na parte traseira, pois ela é um pouco larga. Não estava nem aí para quem achasse estranho, dormiu mesmo, até de manhã.Achei muito engraçado isso; parecia que ele estava na casa dele, tamanha era a tranqüilidade do seu sono.
Durante toda a noite não parava de sair e entrar carros de todos os tipos, até ambulância– mas é claro! É um hospital. Médicos, enfermeiros, doentes terminais, cardíacos, de tudo chegava lá. Havia alguns irmãos na fila, também sofrendo, pedindo a Deus que tivesse misericórdia da gente. Perto da mim uma serva de Deus começou a cantar hinos da Harpa Cristã, parecendo que estava numa clínica, e não sendo humilhada, escrachada, para conseguir uma esmola do governo.Até quando o povo vai sofrer por causa de um sistema corrompido? É essa miséria que alimenta o orgulho dos ricos e sustenta as indústrias farmacêuticas e os planos de saúde e os hospitais particulares. Os ricos só vão a esses hospitais gratuitos quando o gasto será muito grande para eles; mas quando melhoram, eles vão para o particular. “Esse Sistema é um vampiro”, como diz certo poeta.
O dia foi amanhecendo aos poucos, e eu cada vez mais ansioso para marca a consulta e ir embora para casa.Quatro da manhã e já havia quase duas centenas de pessoas na fila; eu estava com uma baita fome, nem estava mais agüentando ler o livro que eu estava lendo.Meu irmão me deu uns trocados e eu fui comer uma coxinha e um copo de café, desse de 50 ml.Comi com um certo nojo, pois não tinha certeza se era “limpa” ou não.Comi.Fiquei com pirangajem de comer outra, pelo fato de ser um real, uma simples coxinha, que é mais massa que qualquer coisa; e ruim que era, além de ser requentada.
O Osvaldo Cruz foi acordado aos poucos, com o sol beliscando seu telhado e gritando o seu grito silencioso. Os funcionários e os estudantes de medicina começaram a chegar para o batente também. Observei que a maiorias são burgueses, como sempre, infelizmente.Dificilmente há um pobre entre eles, é um verdadeiro circulo, bem fechado.Quem estava na fila começou a se organizar para que ninguém tomasse o lugar que toda a noite foi guardado; de vez em quando aparecia um esperto para fazer isso.É dose!! Nem sequer respeitam aos mais velhos que passaram a noite toda nesse suplício.
Achei estranho e ao mesmo tempo engraçado um senhor que não parava de olhar as pernas de uma moça perto dele.Ela estava em pé, e ele sentado, só deslumbrado com tudo aquilo, pois era uma loira bonita.Tinha umas pernas bem feitas, grossas, parecendo uma modelo. Ele chega estava tranqüilo, curtindo tudo aquilo; já pensou que coisa?saí de lá e ele ficou ainda fazendo a mesma coisa.
A ficha foi marcada para quase 15 dias depois; meu pai sofrendo com o seu problema, teve que esperar todo esse tempo, e ainda está esperando, pois colocou uma sonda, após a consulta com o Urologista; pelo menos conseguiu alguma coisa.Espero que tudo dê certo para ele, se o Senhor Deus quiser.

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